domingo, 28 de junho de 2009

O herói do povo

Numa cidade do interior da Bahia, um político muito querido e famoso se torna vereador. Filho de outro político muito conhecido e influente - por comprar novas ambulâncias para o município – ele recebeu a alcunha de Tevo da Ambulança. Provavelmente seu nome era Estevão. Mas essa informação é de origem imprecisa, já que no interior a alcunha é mais forte e mais presencial que o nome de batismo. Tevo era desses políticos populares. Não terminou o ensino fundamental do segundo ciclo – dizem por aí, as más línguas, que nem havia terminado a alfabetização. Era de um discurso comedido e até pobre, mas de efeito e eficácia: as ambulâncias novas da prefeitura compradas por seu pai, político de renome. Na verdade quase nunca falava; melhor, nunca falou nada. Quem falava das ambulâncias era seu pai e o povo em geral, alem dos que o apoiavam; era citado, recomendado e sugerido por outros políticos no palanque. Sua imagem era constante nos comícios, mas ficava sempre à sombra dos grandes; calado. Com isso ganhou prestígio, mesmo não tendo dito uma única palavra sobre seus planos, seus projetos ou sobre suas intenções ao cargo público pretendido. Ele e o microfone pareciam não ser íntimos. Dizem os opositores, que Tevo tinha medo de microfones. Verdadeiro pavor. Mas, enfim, fato é que um dia Tevo falou. Já era, nessa situação, vereador. Na câmara, ocorria um debate acirrado sobre assuntos de interesse popular. Era xingamento daqui, ameaça dali, gritaria de lá, insultos de cá. E Tevo na sua calma habitual e no seu silencio quase místico. De repente um desses tipos zombeteiros, do meio da multidão gritou:

- Fala alguma coisa, Tevo.

Todo mundo parou. As atenções se concentraram na pessoa do vereador. Tevo se encaminhou até o microfone, olhou de um lado para o outro, viu aquela imensa aglomeração de pessoas. Olhou com certo receio para o microfone. Depois procurou com os olhos, pela multidão, o patife que o provocara. Ao identificá-lo, franziu o cenho, levantou o braço na direção do cidadão zombador, apontou - lhe e disse eloqüentemente:

- Lhe pego lá fora.

E falou Tevo. O meu, o seu, o nosso herói.


Augusto F. Guerra

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