sábado, 28 de novembro de 2009

Humor na câmara de gás


Parei de me iludir quando descobri que

A esperança é gás tóxico

Que só existe no vício

Inocente de quem ainda compra

Balinhas soft


Augusto F. Guerra

Crepúsculo

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Sou prisioneiro de minha própria ilha
Não habito por muito tempo ninguém
Fujo por entre a terra verde até me perder
No orvalho frio da noite

Como chuva, venho e vou
E me dissipo no ar. Onde estou em ti?
Não sabes que meus vestígios são voláteis?
Minha matéria é poeira
Que segue com o vento e ganha vida?

E viajo por todas as dimensões
Saboreando a paisagem muda e gelada
Do meu espírito que escoa liquidamente triste
Sem um único e pobre frasco
Que o retenha


Augusto F. Guerra

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ensaio: Dizer não é dizer sim para si!

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Os otimistas vêem qualquer ato de esperar o bem vindouro como Esperança. Isso é uma virtude, pois tudo de bom se vê em tudo que se enxerga. Tudo de bom se pensa sobre o quê está por vir, e das pessoas que nos cercam. Porém nem tudo que se espera se constitui realmente como esperança; muitas vezes é Ilusão. Logo, há o esperançoso, que se apega às reais possibilidades do por vir, e o iludido, que será um potencial desiludido.

Esperar um bem que possa acontecer é positivo, desde que este apresente indícios que comprovem a sua possibilidade real de ocorrer. Isto é a esperança, um sentimento fundado e alicerçado em concretudes. A esperança de reencontro, de reconciliação, de salvamento, de dias melhores, etc. se concretizam, a partir do momento em que há um caminho que conduza ou que permita o desdobramento das realizações. Caso contrário, o que se experimenta é a ilusão.

Ilusão, ou a construção arbitrária de uma falsa esperança é algo inerente ao ser social. É uma tentativa, por mais masoquista que seja, de se construir ou alcançar a tão preconizada felicidade, ou realização pessoal plena, a despeito da realidade circundante. A construção de uma possibilidade real - imaginária, portanto, falsa aos olhos realistas, é preconizada nas relações sociais cotidianas, que em momentos de sofrimento, alimentam o irreal e o imaginário. Assim, iludir-se é esperar a concretização de uma possibilidade sem concretude; que não existe.

O paradoxo que se forma entre o esperar e o não acontecimento do fato esperado gera a Desilusão.

Há como se fugir da desilusão, que é perniciosa ao psicológico humano? Sim, há. Primeiro deve-se questionar sobre o que se esperar e sua real concretização; segundo, deve-se buscar perceber onde finaliza a esperança e onde começa a ilusão; terceiro e último, deve-se arraigar na mente que a felicidade é uma preconização social, não algo inerente ao ser ou existir humano.


Augusto F. Guerra

Vozes do mar


Mais uma vez estou de frente para o abismo

E lá está a imagem de meu tormento

As madeixas longas e negras das ondas do mar

A pálida e sedutora brancura da areia sedosa

Os contornos sensuais e convidativos das duras rochas

A voz serena e doce do vento aos meus ouvidos

Que vem do mar, que não me chama... Mas incita-me

Ah, mar!

Um mar que já tem dono; é da terra e com ela

Faz matrimônio

Mas a estúpida voz da minha ilusão me diz

Para cortar o vento que nos separa e

Lançar vôo ao infinito, mergulhar

Na esperança gasosa e alcançar

Seu seio límpido, e me afogar

Em seu peito indiferente

Augusto F. Guerra

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Coragem

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Idéia incontestável
De que o que se há de fazer
É certo e inadiável

Augusto F. Guerra

Cores de Março


Ao som do vento ruidoso

Bailam as folhas da palmeira

Indiferentes aos

Olhares desatentos

Atenta ao passante

Que se disfarça de dor


Agita-se e lhe acena

Pede à brisa um favor


Doce lembrança de beijo furtivo


Augusto F Guerra

Sentinela

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A semente que plantei no verão
Brota agora no inverno
Os laços de sol
Cintilam o infinito
Cravejado de gotas de diamante

Augusto F. Guerra

Se esqueceres


Não sou sombra

Nem esfinge

Não navego no mar de esperar

Tampouco deságuo

No oceano de outras cores

Não sou peixe, nem pássaro

Nem te escuto, nem te vejo

Tenho dois caminhos

O meu sim e o meu não

Se de mim é certa tua idéia

Pega uma corda e acaricia

Teu pescoço

E se não te agradam esses versos

Saibas que é agreste minha alma


Augusto F. Guerra

(Augusto F. Guerra)

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A vida, eterna contradição
Viver, conviver, deixar, partir


Lágrimas, sorrisos, abraços...
Tudo num redemoinho de sentimentos


Explosão de afetos
Implosão de tristeza



Na estação da despedida
Um sentimento de nó
Na garganta um oceano
Nos olhos um silêncio molhado


O trem está pra chegar
Só mais uns minutos
Na boca o som de despedida
Adeus, adeus, adeus
O eco da lembrança


Chega a hora
O trem vem
O trem para
O trem vai,
Fica a memória
O dia-a-dia
As palavras, os gestos
Os sorrisos, os sins, os nãos


Agora é hora de seguir
Os trilhos estão logo à frente
Nele o mesmo trem
Que partiu
Cheio de passageiros
De amigos
De irmãos
De aprendizados
De experiências
Cheio de histórias


E dentro de cada vagão
Um pouquinho de nós
Que vai
E que fica
Que vai
Que fica


Que vai e
Que Fica!

Augusto F. Guerra

Nuvem adjacente




Pego uma idéia que passa

Por sobre minha cabeça...

Uma tempestade de cores

Vultos se colorem em lembranças

Cada possibilidade é um contorno

Com contrapontos de esperança

Tudo na ponta do pincel

Na ponta do lápis

Na ponta da língua

Torrente e profusão de sensações

Senso, contra-senso

Paixão e loucura

Vieses de uma mesma escolha


Augusto F. Guerra