Andei até o fim da estrada. O sol escaldante fustigava a pele indecisa. Procurei uma sombra para descansar os poros ofegantes. Em meio às ruínas de uma velha e abandonada residência à beira da estrada, a alguns passos do inevitável encontro, um objeto brilhava e me convidava a aproximar-me. Caminhei mais um pouco. Lá encontrei um espelho. Velho, desbotado, mas útil aos viajantes de destinos desvanecidos. O objeto me encarou com inusitada resplandecência. Pude ver meus olhos; estavam fundos e delgados. Meus cabelos mais ralos e desgrenhados. As rugas sulcavam a pele castigada pelo tempo. Boca e nariz já não desenhavam a aura da juventude que se perdera em meio ao vazio das lembranças. Ouvi um grito que carregava um nome conhecido; olhei para trás... o espelho caiu e se quebrou. Mas no abismo escuro e infinito da minha mente ,a instancia de uma idéia intermitente, o fluxo paradoxal da verdade negligente, o reencontro cabalístico dos ímpetos escarrou o plasma da essência alimentada sob aquele sol de janeiro.
Augusto F. Guerra
Um comentário:
é preciso regar e esperar outro espelho que refletirá os traços passados. outros olhos, outro espelho.
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