Augusto Fiodor Guerra
Contos, crônicas, poemas, fotopoemas e outras palavras
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Uma de escola
sábado, 8 de outubro de 2011
Epitáfio de veludo
Torniquete
A música ainda é a mesma
O coração parece que parou no tempo
Os acordes do passado
Ainda ecoam no mar revolto
Que acorda a tempestade
À vibração de cada nota
E eu que pensei que o tempo rei
Tudo apagasse, cicatrizasse...
Cada olhar, cada mecha de cabelo
Cada centímetro da pele dela
Ainda está em cada sinapse
Do meu cérebro
Toda noite a mesma imagem
Como num deserto, a miragem
Se desfaz
Ao raiar do sol a cama está vazia
Uma densa neblina acompanha
Meus pensamentos durante o dia
E quando a névoa se desfaz
Continuo naquele ônibus
Escuro, frio e solitário
Ouvindo a mesma música
E mergulhando de cabeça
Na mesma realidade sem cores
terça-feira, 15 de março de 2011
Resiliência
Construí minha ponte firme e forte
Certo da engenharia de minhas emoções
Na vaidade de minha inocência,
Alardeei em vão meu feito à multidão
Pobre diabo!
No primeiro vento foram-se
As pilastras de sustentação
E meu sonho imergiu nas águas do esquecimento
Os ecos da multidão me diziam o que eu já sabia;
O que minha razão sufocada tentou
Por vezes me dizer
Mas, firme, e certo de que cada fim
É um novo começo
Nado agora em busca da terceira margem do meu rio
Onde recomeçarei impetuosamente tudo outra vez
Um passo em falso
Cego pelo esplendor das luzes
Quando uma pequenina estrela
Frágil e bela como a divindade
Pediu-me que alçasse vôo com ela
Encantado pela sua beleza, e
Iludido pelo travesso coração
Respondi que sim
Assim seguimos rumo ao universo
Na minha ansiedade em busca de um sol
Esqueci da minha condição de humano
E assim foi
Primeiro o frio
Depois o ar rarefeito
Mais adiante o oxigênio cessou
E meu corpo caiu como uma estrela cadente
No vazio do meu mundo
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Nomes, sobrenomes e ... pelo amor de Deus!
Um sobrenome em especial me chamou atenção para começar a escrever essa crônica. Não é o mais importante ou o mais curioso, mas o que deu início a um comentário no trabalho e me estimulou a escrever sobre o assunto. Conheci a pouco tempo o sobrenome Café. Como se refere a um alimento, não pude deixar de associá-lo a outros que originalmente são substantivos comuns: Rua, Cruz, Santos, Carvalho, Câmara, Nascimento, Jesus (que é nome próprio, eu sei, mas em combinação com outros substantivos, gera situações inusitadas), Auxiliadora, Salvação, Barra, Cachoeira, Campos, Chaves, Costa, Guerra, Paz, Leal, Pedreira, Neves,Mattos, Peixe, Quadros, Pontes, Leite, Casas . O que me chamou atenção especial foram as prováveis combinações desses sobrenomes. Imagine se a família Café se unir à família Leite... Os filhos se chamariam como? Café com leite? Imagine: Pedro Café com Leite! Se formos para o nordeste, mais especialmente na Bahia, há lugares em que café com leite é conhecido como pingado. Imagine então: Pedro Pingado. Estranho! Quem não se lembra da velha, clássica e insípida brincadeira do Armando?! Se um membro da família Nascimento se casar com um da família Jesus: Armando Nascimento de Jesus! Acho que a profissão desse sujeito seria previsível: armar presépios no natal (essa é velha).
Há alguns anos conheci a família Casas, e há algumas semanas, vi na TV um lutador cujo sobrenome era Ruas. Curiosamente pensei na junção desses dois nomes e de um descendente dos mesmos: Armando Casas e Ruas (desculpe leitor, mas o nome Armando terei que repetir algumas vezes visto a sonoridade estranha que causa). Provavelmente o Armando vai abrir uma empresa de engenharia, pelo menos o nome já seria um marketing de sucesso.
Agora imagine os sobrenomes Santos e Jesus! A mãe Santos casa com o Pai Jesus e a filha, como uma boa exemplar de uma família evangélica, se chama: Adoração dos Santos e Jesus. Com esse nome essa jovem só vai viver na igreja. Se fosse católica poderia até ser freira, e quem sabe após a morte... Santa! Ainda nessa área cristã, visualize: Benigna Salvação de Jesus! Essa, com certeza, vai estar jogando dominó com Irmã Dulce lá no céu.
E não para por aqui. Armando Guerra e Paz (olha o Armando de novo!). Esqueçamos o grande estrategista Winston Churchill! Com um nome tão sugestivo, o Armando com certeza vai ser ministro da defesa da República Federativa do Brasil. Quando nada pode criar uma milícia de libertação em algum desses países que vive sobre o julgo da opressão militar.
São tantas as combinações - Gloria Salvação de Jesus, Armando Pontes e Casas, Clemente Bispo de Jesus, Amado Leal Filho, América Brasil Paulistano, Teobaldo Pinto Souto, Ada Lima das Laranjeiras, Diorina Trouxada de Costa - que em uma crônica só não conseguiríamos esgotar todas as possibilidades. Por último, não poderia deixar de brincar com um sobrenome que me é muito familiar: Cruz. Da família Cruz de Jesus nasce a amada filha: Benvinda Cruz de Jesus. Essa pobre coitada ou vai ser apedrejada pelos cristãos ou vai fundar uma seita de adoração satânica.
Tá certo que nome é nome, mas, palhaçadas à parte, a menos que você pretenda que seu filho seja motivo de bullying na escola, ou chacota no trabalho, ou que você queira se vingar do nome estrambótico que seu pai e sua mãe te deram, não faça uma miséria dessas com um filho. Lembre do Armando! E lembre que poderia ser pior... se a mãe do Armando fosse Pinto e o pai fosse Amoroso ou de Costa?
Augusto F. Guerra
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Ecos de Édipo
Se vir e ir rimam a música ao fim do verso
Por que saudade é uma palavra tão dissonante?
Augusto Guerra