terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sob o céu desnudo

Eu não sei como aconteceu. Lembro que estava caminhando triste junto ao mar, quando, de repente encontrei aquela concha na terra molhada. Peguei-a e observei atentamente. Sua cor branca reluzente causava topor em minhas retinas; um orifício, na sua superfície, levava a uma cavidade interna de contornos turvos e coloração castanha... Uma brisa suave como um abraço esquecido no tempo veio do mar e confortou meu peito ácido. Ajoelhei-me na areia encharcada de sal. Um som maior que o canto das ondas do mar desbravou minha epiderme. Parecia vir do íntimo daquela relíquia do oceano. Levei-a com as mãos indecisas ao meu ouvido, e uma doce melodia escorreu, primeiro pelas minhas células nervosas, depois pelas minhas veias e aorta, até chegar voraz como um predador marinho ao coração. Depois disso, só lembro da concha desabar por entre meus dedos e a água salgada do mar alagar meus olhos. Agora estou aqui só, numa estrada turva e tortuosa, sob um céu de matizes castanho.

Augusto F. Guerra

Um comentário:

Unknown disse...

http://clint12eastwood.blogspot.com/