sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Nomes, sobrenomes e ... pelo amor de Deus!


Um sobrenome em especial me chamou atenção para começar a escrever essa crônica. Não é o mais importante ou o mais curioso, mas o que deu início a um comentário no trabalho e me estimulou a escrever sobre o assunto. Conheci a pouco tempo o sobrenome Café. Como se refere a um alimento, não pude deixar de associá-lo a outros que originalmente são substantivos comuns: Rua, Cruz, Santos, Carvalho, Câmara, Nascimento, Jesus (que é nome próprio, eu sei, mas em combinação com outros substantivos, gera situações inusitadas), Auxiliadora, Salvação, Barra, Cachoeira, Campos, Chaves, Costa, Guerra, Paz, Leal, Pedreira, Neves,Mattos, Peixe, Quadros, Pontes, Leite, Casas . O que me chamou atenção especial foram as prováveis combinações desses sobrenomes. Imagine se a família Café se unir à família Leite... Os filhos se chamariam como? Café com leite? Imagine: Pedro Café com Leite! Se formos para o nordeste, mais especialmente na Bahia, há lugares em que café com leite é conhecido como pingado. Imagine então: Pedro Pingado. Estranho! Quem não se lembra da velha, clássica e insípida brincadeira do Armando?! Se um membro da família Nascimento se casar com um da família Jesus: Armando Nascimento de Jesus! Acho que a profissão desse sujeito seria previsível: armar presépios no natal (essa é velha).

Há alguns anos conheci a família Casas, e há algumas semanas, vi na TV um lutador cujo sobrenome era Ruas. Curiosamente pensei na junção desses dois nomes e de um descendente dos mesmos: Armando Casas e Ruas (desculpe leitor, mas o nome Armando terei que repetir algumas vezes visto a sonoridade estranha que causa). Provavelmente o Armando vai abrir uma empresa de engenharia, pelo menos o nome já seria um marketing de sucesso.

Agora imagine os sobrenomes Santos e Jesus! A mãe Santos casa com o Pai Jesus e a filha, como uma boa exemplar de uma família evangélica, se chama: Adoração dos Santos e Jesus. Com esse nome essa jovem só vai viver na igreja. Se fosse católica poderia até ser freira, e quem sabe após a morte... Santa! Ainda nessa área cristã, visualize: Benigna Salvação de Jesus! Essa, com certeza, vai estar jogando dominó com Irmã Dulce lá no céu.

E não para por aqui. Armando Guerra e Paz (olha o Armando de novo!). Esqueçamos o grande estrategista Winston Churchill! Com um nome tão sugestivo, o Armando com certeza vai ser ministro da defesa da República Federativa do Brasil. Quando nada pode criar uma milícia de libertação em algum desses países que vive sobre o julgo da opressão militar.

São tantas as combinações - Gloria Salvação de Jesus, Armando Pontes e Casas, Clemente Bispo de Jesus, Amado Leal Filho, América Brasil Paulistano, Teobaldo Pinto Souto, Ada Lima das Laranjeiras, Diorina Trouxada de Costa - que em uma crônica só não conseguiríamos esgotar todas as possibilidades. Por último, não poderia deixar de brincar com um sobrenome que me é muito familiar: Cruz. Da família Cruz de Jesus nasce a amada filha: Benvinda Cruz de Jesus. Essa pobre coitada ou vai ser apedrejada pelos cristãos ou vai fundar uma seita de adoração satânica.

Tá certo que nome é nome, mas, palhaçadas à parte, a menos que você pretenda que seu filho seja motivo de bullying na escola, ou chacota no trabalho, ou que você queira se vingar do nome estrambótico que seu pai e sua mãe te deram, não faça uma miséria dessas com um filho. Lembre do Armando! E lembre que poderia ser pior... se a mãe do Armando fosse Pinto e o pai fosse Amoroso ou de Costa?

Augusto F. Guerra

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ecos de Édipo


Se vir e ir rimam a música ao fim do verso

Por que saudade é uma palavra tão dissonante?


Augusto Guerra

domingo, 17 de outubro de 2010

Ouro de tolo



Um milhão e trezentos mil brasileiros têm Tiririca na cabeça... ou seria titica? No fim das contas, tem diferença?

Augusto F. Guerra

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

1,3 milhões de razões para lastimar


No último dia 03 de outubro, tive certeza de que 1,3 milhões de brasileiros não sabem a diferença entre política e circo. Um comediante e palhaço chamado Tiririca foi eleito deputado federal com 1,3 milhões de votos. Nada contra artistas se candidatarem a cargos políticos. Mas tudo contra um candidato que aparece no horário eleitoral fantasiado, sempre brincando e ainda diz que não sabe o que um deputado faz, mas se for eleito vai saber! Durante todo o período da propaganda gratuita eleitoral o Tiririca não apresentou uma única proposta, só brincou e fez palhaçada. No entanto foi o deputado federal mais votado.

Que a massa eleitoral não sabe votar eu já sabia, mas que era burra é novidade para mim. No dia seguinte às eleições ainda ouvi alguns comentários defensivos ao tal palhaço: “o povo votou como uma forma de protesto”, “ele pelo menos falou a verdade, não enganou ninguém”. A grande massa se contenta com muito pouco, ou com nada, que foi o que o candidato deles prometeu. Agora eu me pergunto, se um desses 1,3 milhões que elegeram o comediante contratasse um pedreiro para fazer uma casa e este lhes dissesse “Eu não sei fazer uma casa, mas se você me der uma chance eu vou saber como se faz”, será que o profissional seria contratado para o serviço? Se um professor entrasse numa sala de aula de um filho desses 1.3 milhões de brasileiros que endossaram o piadista e dissesse “Eu não sei dar aula, mas se vocês permitirem eu posso aprender como é que se faz”; o que estes brasileiros fariam? Se dissessem sim a essas respostas, ou lhes falta razão, ou inteligência.

Não tenho absolutamente nada contra o tal Tiririca, até acho que ele possa ter um potencial desconhecido. Não o julgo como ser humano, nem tão pouco seu intelecto. Mas o julgo como candidato que brincou com nossa cena política e ainda foi votado por uma grande parte da população brasileira. Além de toda essa fanfarronice, o tal, agora, deputado federal é acusado de ser analfabeto, por duas das maiores revistas do país. Agora imagine: um deputado que não escreve seus projetos, nem pode ler documentos... Como é que funciona isso mesmo? Eu não entendo. Talvez seja modernidade demais para mim, ou estupidez alheia demais para aceitar.

Bem, no final das contas eu espero que, ou o agora deputado federal Tiririca seja uma revelação da política brasileira, e eu queime minha língua, ou que os 1,3 milhões de brasileiros que votaram nele se decepcionem muito, tenham um boa lição de cidadania e aprendam a votar conscientemente. E eu, vou ficar por aqui, na expectativa por me contradizer ou de amargar 4 anos de palhaçada na política nacional.

Augusto F. Guerra

domingo, 18 de julho de 2010

Os olhos nem sempre alcançam

Alem das aparências remotas

O jogo está lançado e a máquina

Do tempo funciona a curtas engrenagens

Dois peões daqui, um bispo de lá

É tudo uma grande fornalha

Para queimarmos a rainha obsoleta

Desse xadrez pertinente e descontinuo

O tabuleiro desbota em lembranças degrades

Num matiz de arrepios e ávidos impulsos

É hora de dar pouso à caravana

Alimentar as mentes lúdibres

Dar a ração dos coiotes da intemperança

E abraçar os cadáveres podres

Que descansam no sótão

Augusto F. Guerra

terça-feira, 8 de junho de 2010

O caixa é rápido, as pessoas é que são lentas.



Durante algum tempo, mergulhado em minha correria cotidiana, acreditei que os caixas eletrônicos dos bancos eram problemáticos. Eram lentos; não atendiam às necessidades imediatas dos seus clientes. Mas eu estava errado. Não há problemas com os caixas. O problema está nas pessoas que os utilizam.

O sujeito, não digo cidadão, se dirige a um caixa rápido, na maioria das vezes, sem a noção de que outras pessoas compartilham a mesma necessidade. As máquinas que são para uso de todos os clientes, acabam muitas vezes sendo monopolizadas por um indivíduo, que nem sabe ao certo o que quer, ou não consegue manusear o equipamento como deseja.

Há aquela pessoa que não sabe fazer uma operação, mas insiste em tentar fazer-la sozinho, tomando o tempo de todos e alongando a fila quilométrica atrás de si.
Tem também aquele que quer sacar um dinheiro, mas não tem a menor idéia do que há em sua conta. Este, toda vez que se dirige à máquina, tem que primeiro ver o saldo e depois saca. Saldo se vê uma vez por semana, ou quando você se perde em seu orçamento. Pra que olhar toda vez que vai sacar dinheiro?

Mas o que mais irrita é o indivíduo que vai sacar dinheiro com dois, três ou quatro cartões diferentes. Todo mundo tem o direito de fazer pelo menos uma operação em tempo hábil; de forma rápida. Afinal o nome do atendimento é Caixa Rápido.

Mas execrável é aquele ser que vai fazer favor para os outros, esquece algum detalhe como o número da conta ou da agência e tem que interagir com o titular da conta por telefone antes e durante a operação. Tenha a santa paciência!

Um banco não funciona para uma única pessoa. Todos os clientes pagam impostos para poderem ter os mesmos serviços à sua disposição de forma rápida e efetiva. Então, não é lógico nem aceitável que um insensato qualquer use um serviço - que era para ser rápido e desafogar o conturbado dia a dia dos bancos – de forma egoísta e irresponsável. Passa o tempo, passam as gerações, desenvolvem-se as tecnologias e a ciência, mas o ser humano continua burro e tirando zero no quesito cidadania.
Augusto F. Guerra

quinta-feira, 18 de março de 2010

Mundo desbotado

Andei até o fim da estrada. O sol escaldante fustigava a pele indecisa. Procurei uma sombra para descansar os poros ofegantes. Em meio às ruínas de uma velha e abandonada residência à beira da estrada, a alguns passos do inevitável encontro, um objeto brilhava e me convidava a aproximar-me. Caminhei mais um pouco. Lá encontrei um espelho. Velho, desbotado, mas útil aos viajantes de destinos desvanecidos. O objeto me encarou com inusitada resplandecência. Pude ver meus olhos; estavam fundos e delgados. Meus cabelos mais ralos e desgrenhados. As rugas sulcavam a pele castigada pelo tempo. Boca e nariz já não desenhavam a aura da juventude que se perdera em meio ao vazio das lembranças. Ouvi um grito que carregava um nome conhecido; olhei para trás... o espelho caiu e se quebrou. Mas no abismo escuro e infinito da minha mente ,a instancia de uma idéia intermitente, o fluxo paradoxal da verdade negligente, o reencontro cabalístico dos ímpetos escarrou o plasma da essência alimentada sob aquele sol de janeiro.


Augusto F. Guerra

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Receita de seguir adiante

.


É primordial nesta vida
Que nossos caminhos, não reguem, às lágrimas
De dor, ao menos, e as de angustia
Para tal é mister a largo:
Um montante infinito
De ir ao espelho e amor próprio
Pitadas pomposas de rir, regadas
De reflexão e saber
Desejo ímpio de reerguer-se
Nem filmes ou músicas
De amor e paixão


Muitos, do peito, amigos e eternos
Falar e gritar, não beber nem cair


Uma grande medida de tempo
Vorazes olhos de volúpia e viver
Consumir cada dia e instante
Essência de sim e esperança
E a certeza que o sol
Não é a única estrela
Que nasce
Todo dia


Augusto F. Guerra

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Defenestração


Ontem estive só

Desde o amanhecer até a noitinha

Hoje, estou aqui

Desde que despontou o sol

Amanhã, acho que acordarei

Depois das seis

Acho que a janela não é

Uma boa amiga


Augusto F. Guerra

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sob o céu desnudo

Eu não sei como aconteceu. Lembro que estava caminhando triste junto ao mar, quando, de repente encontrei aquela concha na terra molhada. Peguei-a e observei atentamente. Sua cor branca reluzente causava topor em minhas retinas; um orifício, na sua superfície, levava a uma cavidade interna de contornos turvos e coloração castanha... Uma brisa suave como um abraço esquecido no tempo veio do mar e confortou meu peito ácido. Ajoelhei-me na areia encharcada de sal. Um som maior que o canto das ondas do mar desbravou minha epiderme. Parecia vir do íntimo daquela relíquia do oceano. Levei-a com as mãos indecisas ao meu ouvido, e uma doce melodia escorreu, primeiro pelas minhas células nervosas, depois pelas minhas veias e aorta, até chegar voraz como um predador marinho ao coração. Depois disso, só lembro da concha desabar por entre meus dedos e a água salgada do mar alagar meus olhos. Agora estou aqui só, numa estrada turva e tortuosa, sob um céu de matizes castanho.

Augusto F. Guerra

Poeminha sem rima

.

O poeta não escreve
A hemorragia de suas dores
Mancha o papel
Que quando seca
Mostra seu peito
Dilacerado

Augusto F. Guerra

Vôo íntimo


O Augusto já morreu

O Fiodor é pretensão

O Guerra não sou eu

De tantos nomes

Que minha mente

Fabrica largo

Me chamo deserto


Augusto F. Guerra