sexta-feira, 12 de setembro de 2008

De como quase fui ladrão - Parte II


Como todo bom filme tem a parte dois, lá vamos nós de novo. Acredito que as forças do mal definitivamente me queriam do seu lado. Já não bastasse a corrupção me tentar com o caso do boneco vermelho do Pinóquio, meus amigos acabaram por me enredar numa estória de roubo, violência e assassinato! Brincadeira foi só roubo mesmo. Vamos aos fatos. Tínhamos saído da escola juntos, como era de habito. Éramos em numero de cinco: eu, meu irmão, o Alex, o Mourinho e o Nalberto. Esses três últimos eram irmãos e nossos vizinhos de longa data. Morávamos todos em um conjunto habitacional na saída da cidade. Até a escola era uma longa caminhada. Já era hora do almoço, estávamos esfaimados e a caminho de casa, o que não nos impediu de peraltearmos um pouco em nosso percurso. O Nalberto teve a idéia, “vamos passar no mercado”, ao que prontamente nos dispusemos sem o menor questionamento. Não sabíamos bem ao certo o que faríamos lá. Só não queríamos desperdiçar os instantes de liberdade que tínhamos. Na verdade, meus pais até davam bastante liberdade para mim e meu irmão, o que já não acontecia com o Nalberto e seus irmãos. Seus pais eram bastante rigorosos e severos, principalmente com os seus estudos. Quando chegavam da escola, almoçavam, descansavam um pouco e tinham que enfiar a cara nos livros. Era a tarde inteira estudando. Eu e meu irmão sempre dávamos um jeito de atrapalhar essa tarefa árdua dos nossos amigos. Como o pai deles trabalhava o dia inteiro, chegando sempre ao fim da tarde, a tarefa de coordenar os estudos era da mãe, que era severa, mas muito educada também. Quando eu e meu irmão chegávamos à casa do Nalberto, sua mãe sempre dizia “Nalberto, Alex e Mourinho peçam licença para o meninos e vão estudar”. Mas entre essa ordem e o seu cumprimento havia uma distância enorme. No final das contas conversávamos bastante. Mas quando se aproximavam às 16 horas, era tempo de irmos, pois o Sr. Venâncio, pai dos nossos amigos, estava para chegar. Ele era um senhor muito educado e gentil, mas muito veemente também quando mandava os meninos estudarem. Outro dia, porque os meninos tinham tirado nota baixa, e não estavam se dedicando muito aos estudos, o Sr. Venâncio colocou os três de joelhos sobre uns punhados de milho. Para eu e meu irmão, foi engraçada a cena, mas para os meninos, pelos semblantes de sofrimento que esboçavam , acho que não foi nem um pouco agradável aquela situação. Por essas e outras é que o Nalberto e seus irmãos aproveitavam qualquer brecha de tempo para brincar e aprontar um pouco. Então adentramos no supermercado. Demos algumas voltas, olhamos alguns produtos, que logicamente não iríamos comprar, rimos um pouco, e fomos embora. No meio do caminho é que veio a surpresa. O Nalberto enfiou a mão na mochila tirou uns pequenos carrinhos e começou a distribuí-los ente nós. “Esse é pra você... pra você, pra você, pra você e pra você. Pronto! Um de cada. São de vocês”. Achei aquele gesto tão bonito! Compartilhar seus brinquedos com os amigos. Grande sujeito era o Nalberto. Então resolvi perguntar “Legal Nalberto, você comprou esses carrinhos pra gente?”, “Comprei!? Não... eles estavam jogados no chão do supermercado. Como ninguém parecia dar conta deles, peguei-os”, disse inocentemente o Nalberto. Parei, olhei para o carrinho vermelho, refleti um pouco e cheguei a uma conclusão: “Acho que já vi essa história antes”.

Cruz, Fabio. Compilação de minhas verdades: por Augusto Guerra; pg. 24-25.



2 comentários:

nexunny disse...

É meu caro Fábio, as forças alheias tentaram corrompê-lo... Mas felizmente não obtiveram sucesso!

;*

Preta disse...

Adoro seus textos, o jeito que brinca com as palavras...
Bonitos, fortes, autênticos...