quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Como nasce uma vilão


Pensei que fosse uma crise

Um desses momentos de raiva,

De egoísmo, de desânimo...

Mas era simplesmente eu


Um eu oprimido, sufocado

Um eu de sentimentos pouco nobres

Um eu de leviandade, de mesquinhez

Um eu sem altruísmo,

Um eu pobre e egoísta


Mas ante a vil descoberta

Cintilava, em algum espaço

Da consciência, um sorriso sincero

Uma manifestação sutil

De sinceridade

Tímida, mas

De uma satisfação

Única


Satisfação do não esconder,

A verdade

Não mais... A ‘vilania’ inata

Uma complexidade de sentidos

A crueldade de ser bom

Na anulação continua

Da padronização imposta

E a maldade latente

De ser sincero somente

No crepúsculo

Da solidão


Do silêncio se fez a voz

Da dormência a atividade contínua

Do medo a coragem emergente

Da demência a efusão de razão e idéias


Mostro meu rosto

Inda ruborizado e prematuro

Ergo o braço. Aponto cada semblante

Com interrogações nas sobrancelhas


E antes que se macule, com o taciturno

E coletivo desprezo da corja dos dementes,

Minh’alma

Mergulho na musica dissonante

E repleta de contratempos,

E contrapontos

De ser

Eu mesmo

Augusto F. Guerra

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Porca hipocrisia


Malditos dias de mediocridade humana! Depois ainda me perguntam por que sou anti-social. Não há outro caminha para o indivíduo que se descobre enquanto essência. O coletivo está repleto de seres com valores absolutamente corrompidos. E o pior é que estas beldades ainda se acham os donos da verdade. Outro dia pensei em colocar meu nome nos dicionários de língua portuguesa. É sério! Imaginem:


Au.gus.to Guer.ra - s.m 1. detentor de apurada consciência. 2. uma ilha de sabedoria e consciência em meio a um mar de mediocridade. 3. adj. Consciente, sábio, sincero, avesso à mediocridade e hipocrisia.


Mas acho que não seria tão útil fazê-lo. Afinal esse é o tipo de vocábulo que as pessoas menos procuram num dicionário. Na verdade, a maior parte das pessoas nem consulta um dicionário. Muitos nem devem saber o que é um. Acho que esse excesso de mediocridade faz com que as pessoas se debandem para o pior dos defeitos humanos: a hipocrisia. Nossa! Essa última fede. Como? Caros leitores! Vocês ainda não perceberam esse cheiro insuportável? È um verdadeira inhaca que impregna todo o ambiente. Normalmente não distinguimos um cheiro quando estamos impregnados por ele, ou quando nosso olfato não anda lá muito bem, o que pode significar algum problema fisiológico! Espero que não seja o primeiro caso, o de vocês. Acho que talvez a hipocrisia seja uma doença. È... Pode ser! Outro dia um amigo me palestrou sobre uma opinião parecida. Acho que, como ele disse, ela deve atacar os sentidos humanos. Primeiro o olfato, por isso muitos de vocês não sentem esse odor terrível. E é essa uma doença tão horrível. Parece que também ataca as células nervosas e desfaz as sinapses. Normalmente uma pessoa atacada por esse mal não percebe bem o mundo ao seu redor. Hum! Por isso que elas dizem uma coisa e fazem outra! Seu poder de reflexão e percepção é gradualmente danificado. O pior é que, como meu amigo me palestrou, é essa uma doença crônica. Não tem cura. Assim como a AIDS, o câncer, o mal de Parkinson, o de Alzheimer e outras tantas doenças desse tipo. Diante do que ele me informou comecei a não mais sentir raiva dos hipócritas, mas uma tremenda piedade e compaixão. No final das contas, são pobres seres acometidos de um grave mal. Mas o que me deixa mais triste é que tenho muitos entes queridos que sofrem desse mal. E me sinto deveras abatido por ter tanto conhecimento sobre esse problema, mas nada poder fazer por eles. Inclusive, já ia me esquecendo, meu amigo me pediu que nunca contrariasse um hipócrita. Eles podem se tornar agressivos. Alguns até agem com violência. E a última coisa que eu faria é trazer mais sofrimento para um amigo ou um parente. Por isso, os vejo agir de maneira tão torpe e nunca lhes compartilho minhas opiniões contrárias. Tenho um primo, o Getúlio. Gosto tanto dele. Mas tenho que admitir que não nascemos para conviver no mesmo ambiente. Não que eu seja preconceituoso, mas a sua doença, a hipocrisia, prejudica muito nossas relações pessoais. Ele sempre me diz: “Guto, sempre seja verdadeiro com seus amigos.”, “Guto, seja sempre uma pessoa limpa e organizada.”, “Guto, jamais deixe de fazer seus afazeres”. Mas ao contrário de tudo que ele me diz, ele não faz nada. Ele é um grande fofoqueiro, porcalhão e irresponsável. Infelizmente, isso me tira o humor, mesmo porque ele sempre me participa dos problemas dos outros, sempre tem mil e uma desculpas para não realizar seus compromissos e é de uma bagunça e desorganização sem igual. Mas se eu, por um instante que seja, agir de forma similar a ele, ele para tudo que está fazendo para me passar um sabão. Estou um pouco cheio disso. Mas tenho que entender que é tudo conseqüência dessa nefasta doença. Ainda ontem meu amigo, que me palestrou sobre o mal da hipocrisia, me disse que não se chama mais isso de mal. Como a ciência e a medicina andam rápido no diagnóstico e nas pesquisas desses problemas! Agora há um termo novo e mais preciso para definir a hipocrisia: distúrbio de caráter.


Cruz, Fabio. Compilação de minhas verdades: por Augusto Guerra; pg. 48-49.

Augusto F. Guerra

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

1/3 não é a metade


Já dizia o grande poeta que “1/3 não é a metade”. Bem isso é lógico. Quer dizer... Lógico? Não sei, talvez não seja. A lógica é sempre lógica, mas às vezes, nem todos estão aptos a reconhecer ou ver a mesma. Vou colocar um problema para confirmarmos isso:

Três pessoas (H1, H2 e H3) estão diante de uma pia que é dividida em quatro partes: o centro (com a torneira), duas laterais amplas e largas (L1 e L2) e um compartimento que é um quadrado de aproximadamente 50 cm2 (vamos chamar de Quadrado rosa, ou QR, este último). Desconsideremos o centro. Assim, nos sobram três partes. Um dos homens, H3, coloca em QR vasos plásticos, latas de alimentos, pratos e um pouco de sujeira que atraia muitas formigas. Os outros dois homens (H1 e H2) não colocam nada em qualquer parte da pia, inclusive nem conseguem usá-la direito porque o H3 coloca em L1 louças, talheres e panelas sujas e limpas, todos juntos; e em L2, o mesmo, além de muita sujeira, deixa panelas e pratos sujos o que atrai, também, muitas formigas. Mesmo desconsiderando o centro, é válido lembrar que este também é ocupado por H3, com copos, pratos e panelas. Vamos ao problema: Se H1+H2= L(limpeza) e H3. (L1+L2+QR) = MS (muita sujeira), podemos concluir que mais de 2/3 da pia é/está:

a) Ocupado por H3.

b) Sempre sujo para H1 e H2.

c) Demonstrativo da falta de consciência de H1.

d) A verdade que H3 fecha os olhos para não ver (sobre seu asseio).

e) Uma tremenda sujeira.

Obs.: Marque somente um das questões se você não tem maturidade para entender esse problema higiênico-matemático, ou marque todas as questões se você é uma pessoa justa, madura e acha que cozinha é lugar de limpeza.


Augusto F. Guerra

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A adiposíssima senhora elefântica gorda


Havia acabado de chegar à festa de casamento do meu ilustríssimo amigo Petrônio Nevadas. Dirigi-me juntamente com uns amigos a uma mesa localizada no final do salão. O local onde se realizara a festa era grande e espaçoso, mas como eram muitos os convidados, o aperto foi inevitável. Sentamo-nos à mesa, acomodamo-nos e começamos a beliscar alguns aperitivos. Ia tudo muito bem até uma elefântica senhora gorda começar a estragar minha noite. Ela não era obesa, mas era gorda o suficiente para incomodar qualquer pessoa no raio de alguns metros. Nada contra o seu excesso de tecido adiposo. O problema é que ela resolveu sentar-se ao meu lado. Sem que houvesse o mínimo de espaço entre a mesa que estávamos, que se localizava na quina entre duas paredes, a adiposíssima senhora tomou uma cadeira e sentou-se numa proximidade tão grande que o ar tinha que pedir licença para passar entre nós. Pior, ela me pressionou literalmente, entre a mesa e a parede, não me dando espaço para me mexer ou mesmo sair. Como havia outra mesa próxima à nossa, também paralela, e próxima à parede, nenhum dos meus amigos podia sair. Respirei fundo, apesar do pouco espaço, e pensei “Isso não vai acabar com minha noite”. À proporção que a banda tocava e o tempo passava a ilustríssima senhora se animava. Muita comida e bebida de graça... Acho que era o paraíso para ela. E ela se animava cada vez mais. Passava o garçom, ela não perdia um copo. Mas tenho que admitir que gentilmente ela sempre nos oferecia bebida também. Mas isso não compensa a falta de desconfiômetro dela. Ao passo que ela se empolgava e conversava com umas amigas próximas, ela gesticulava e gesticulava, e o espaço entre nós que era negativo, se tornava cada vez menor. E passava o garçom, e ela me perguntava “Não quer um salgado ou um doce, meu lindinho”. E eu pensava “Não, só quero que a senhora exploda de tanto comer e beber”. E ela comia feito um animal esfaimado. A boca cheia de farelos permanecia aberta durante a mastigação... Era uma cena deprimente. E ela ria e gargalhava, e seus movimentos se tornavam mais efusivos. Eu já não sabia onde ela terminava e onde eu começava, éramos praticamente a mesma pessoa. E ela levava a risca a teoria de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. A cadeira dela junto com a minha já era quase uma poltrona para ela. E eu praticamente já não existia não fosse a minha consciência. Ela continuava gargalhando e se refestelando com os doces, salgado e bebidas. Foi então que comecei a orar, pedi a Deus que fizesse surgir uma mesa vazia em algum lugar para que ela e suas amigas pudessem “habitá-la”. Mas acho que o som da festa estava alto e Deus não me ouviu. Aquela situação já estava me deixando sem humor, na verdade já estava ficando enfurecido com toda aquela espremeção. Foi então que tomei uma decisão, tentei respirar fundo, mas não havia espaço o suficiente, consegui pelo menos franzir a testa numa demonstração de indignação. Tentei levantar a mão para apontar-lhe na cara e dizer-lhe umas verdades, mas meu braço direito encontrava-se numa posição um tanto inoperante, esmagado entre a sehoríssima gorda e o recosto de minha cadeira. Então reuni todas as minhas forças, meus olhos já faiscavam de raiva, e, quando já articulava as palavras para lhe dizer umas boas, ela levantou. Olhou para mim com olhar generoso e muito gentil e disse “Meu queridinho, vou à outra mesa. Desculpe deixá-lo sozinho.” E a hipopotâmica senhora se deslocou indolentemente para seu novo habitat. E eu... Eu tentava me recompor e re-encaixar todos os meus ossinhos deslocados pelo imenso e gentil peso daquela adiposíssima senhora elefântica gorda. Agora que me dei conta... Ela parecia muito com o jabuti manco da outra história!

Cruz, Fabio. Compilação de minhas verdades: por Augusto Guerra; pg. 42-43.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mingau, somente R$ 1,00.


Joventino era um jovem rapaz. Trabalhador e honesto. Era daquele tipo de sujeito que se preocupava não só consigo, mas com os outros também. Se alguém passasse na sua casa pedindo algum alimento, ele prontamente o dava sem nem pestanejar. Fosse um quilo de arroz, um quilo de fubá ou um quilo de qualquer coisa. Certo dia não tendo muito em casa, dera para uma senhora o único pacote de biscoito que tinha em casa. Ficou sem ter o que comer, mas foi solidário. Alimentou a alma. Apesar de toda essa bondade e altruísmo, se o assunto fosse dinheiro, Joventino, esquecia toda a solidariedade humana e virava o egoísmo em pessoa. Quando lhe pediam algum emprestado todas as desculpas apareciam. Nunca tinha dinheiro para ninguém:”Caramba, estou todo endividando”, ou “Tô no maior aperto esse mês, não vai dar”. Além de outras saídas que ele sabia inventar muito bem. Um real que fosse, nunca tinha na carteira. Mas curiosamente tinha ele um bom emprego e um bom salário. Sobre esse último nada comentava ou conversava. Nem seus amigos mais próximos sabiam quanto ao certo ele ganhava.

Fato é que todo dia ao ir para o trabalho, Joventino entrava em conflito com sua consciência. Apesar de canguinha não gostava de mentir ou enganar as pessoas. E havia, nas proximidades de seu trabalho, um mendigo que sempre o abordava no mesmo horário e no mesmo lugar, “Uma esmolinha pelo amor de Deus, meu filho”, ao que Joventino sempre retorquia ou fazendo um semblante de pesar, ou dizendo “Não tenho meu amigo...”. Na verdade o tinha. Mas a mesquinharia o impedia de compartilhar seu numerário. Todo dia o mesmo diálogo. Ele já não agüentava mais aquilo. A consciência lhe doía de tanto mentir. O que fazer? O que dizer? Ficar mudo seria a solução? Mudar de caminho? Ignorar o pedinte? Não. Não valia a pena se tornar refém de uma situação tão... Pequena. Pensou, pensou, pensou! Queimou a mufina! Depois de dias muitos de labor mental, eis que veio a grande idéia! Sim, seria aquilo. Não mentiria nem daria seu tão “pobre” e suado dinheiro. Pronto, no dia seguinte não mais teria aqueles terríveis conflitos psicológicos.

Era manhã, Joventino acordara confiante e decidido como nunca. Disposto e alegre saíra para o trabalho; já próximo deste avistara o pedinte. Encaminhando-se na sua direção, olhara para ele de forma fixa e inexorável. “Uma esmolinha pelo amor de Deus, meu filho”, “Vou ficar devendo, meu chapa!”, respondeu Joventino com naturalidade. Era isso! Sem mais crises existenciais. Que felicidade, sem mentiras.

Depois disso, foram todos os dias, o mesmo diálogo. Ele na prepotência de sua fuga e o velho mendigo na sua miséria de sempre. Certa manhã, quando já se encontrava nas proximidades do seu trabalho, sem que percebesse a aproximação, o velho e conhecido pedinte o abordou:

- Com sua licença – disse o pedinte.

- Pois não! – respondeu Joventino, um tanto assustado.

- O senhor, por certo, deve estar estranhando essa minha abordagem. Mas é que já se passaram seis messes, e o senhor continua me devendo.

- Como é? Mas eu...

- O senhor pode não ter se dado conta, mas eu contei todos os dias, desde que o senhor me disse pela primeira vez “Vou ficar devendo”.

-Mas isso é só um modo de falar!

- Então o senhor foge dos seus compromissos. É um caloteiro!

- Epa! Pera, lá! Sem ofensas. Nunca dei o direito de ninguém me chamar dessa forma. Sempre pago os meus devedores em dia.

- Mas, a mim, não!

- Pois quanto lhe devo, velho homem! – disse Joventino, visivelmente transtornado.

Nesse momento Joventino esboçou no rosto um sorriso de canto de boca. Não sei se intencional ou não. Talvez uma mistura de ironia com nervosismo. Não saberia dizer, ao certo.

- Considerando que nenhum homem de bem, e canguinha como o senhor traria na carteira, de manhã cedo, notas de 100, 50, 20, ou ainda, considerando que se as tivesse não me daria esses valores como esmola, acredito que os valores máximos carregados consigo em sua carteira são algumas míseras moedas, notas de 1, 2, 5 ou 10 reais, Desconsiderando que o senhor não fosse parar para contar moedas para me dá-las, e que 10 e 5 reais são notas graúdas para vossa senhoria, só me restam as notas de 1 e de 2. Mas o senhor não me daria notas de 2. Esse é um numero par, que representa sempre o dobro de uma unidade. Logo no final de seis meses o senhor teria me dado o dobro do que realmente almejava me conceder. Logo, resta-nos as notas de R$ 1,00. É essa uma nota comum, de pouco valor e que com certeza o senhor sempre carrega uma consigo. Além disso, é esse um número justo para um vagabundo de rua. Um real, para um dia, quem sabe ele tomar vergonha na cara e ir arrumar um trabalho”. Nem muito nem pouco dinheiro; a medida justa para todos, um, um real. Logo, calculado um real, a cada dia, pelo período de seis meses, o senhor me deve exatamente R$ 180,00.

- Mas, isso é um despautério!

- Então, o senhor, insiste em me dar um calote!

- Não mais repita isso, homem! Não sou de dever à ninguém. Tenho nome e honra limpa. Agora mesmo acabo com essa maldita dívida. Toma aqui... Um... Cheque, pera... 180... Não é?... Então, prontinho... Aqui. Pronto! R$ 180,00. Pegue-o! Mais alguma coisa?

- Tudo certinho. Um bom dia para o senhor.

No dia seguinte, ainda muito, chateado por ter desembolsado R$ 180,00, por um motivo tão banal, Joventino estava disposto a dizer claramente para o homem de rua “Não tenho dinheiro para você não”. Qual surpresa não foi a sua quando viu o pedinte arrumado, tomado banho e penteado, numa simples e modesta barraca de mingau. Uma barraca pobre, de madeira, mas bem pregada e limpa. Meio atônito, Joventino pediu um mingau. Curioso, olhava para o homem como se nunca tivesse o visto antes. Servido o mingau, começaram a papear, papear, papear... Conversaram por bons minutos. Acredito que até ouvi uma gargalhada do Joventino. Não sei ao certo. E o mingau custava apenas R$ 1,00.



Augusto F. Guerra

sábado, 27 de setembro de 2008

Foto para um telejornal sensacionalista


O assaltante apareceu numa esquina. Nem teve tempo de pensar em fugir. Quando percebeu o que estava acontecendo já havia um revolver no meio de sua cara. Walter, que sempre se gabou de nunca ter sido assaltado, estava agora numa situação bastante delicada. O ladrão, um jovem de aproximadamente 18 anos, moreno, magro, e com uma cara cadavérica, pedira a carteira, “Passa o dinheiro, vagabundo”. Ele a deu, mas não havia dinheiro. Nessas ocasiões o meliante tende a ser agressivo. Pois não encontrando o que busca a raiva e a frustração lhe tomam. E foi o que aconteceu. Primeiro, um soco na cara. Walter foi ao chão. Um, dois, três, quatro chutes nas costelas. Como se não bastasse, classicamente uma coronhada na cabeça. Como pegou de raspão, levou outra. Essa em cheio. Bem atrás da cabeça. O pobre cidadão tentou levantar. Mas não lhe houve essa oportunidade. Dois tiros “ta-tá”. Mais três, “ta-tá-tá”. O corpo ficou estendido no chão. O assassino abandonou o corpo e a cena do crime correndo. Após alguns minutos, um vigilante passando ali perto, avistou o corpo. Aproximou-se. Revistou o cadáver. Nada de mais havia nos bolsos, somente um isqueiro e dois cigarros de maconha. Pegou o isqueiro, um desses de camelô, acendeu um cigarro, deu uma tragada. Olhou mais uma vez o corpo, "Filho da pu*”. Eram 3:20 da madrugada.

Augusto F. Guerra

sábado, 20 de setembro de 2008

Ode à Apolo


Não... Não mais a sinto em minhas mãos

Esvaeceu-se minha razão...

Desvaneceu-me as alegrias


Na ponta de meus dedos... a solidão

Do frio e insólito desejo de uma vez mais

Mas quisera a sorte reservar-me

O não mais poder

O não mais criar

O não mais seguir

O não mais...


São onerosas as noites

Sem seu abrigo-canção

As tardes insidiosas

As manhãs dissonantes

Uma vez que não me abrigas mais


Remetem-me às lembranças

O fagote lisonjeiro

O fole em alto tom

O intercalar das cores

Do piano forte


Triste ironia, cômica tragédia

Cercado da beleza de seus iguais

Dos porta-vozes de seu esplendor

Eis me tácito e incapaz


Impotente ante a grandeza

Da enfermidade do abismo


Euterpe, Aede, rogam

À divindade por mim!


Pois que reside em mim

Ainda

A esperança imortal

De um dia quiçá

Pela dádiva

De Zeus

E comiseração

De Apolo

Deleitar-me

Uma vez mais

Da música que

Um dia habitava

Em mim


Joaquim A. Vasconccelos

domingo, 14 de setembro de 2008

Amargo

Fere...

Corta...

Dilacera a carne, lembranças


Em chamas a alma crepita

De onde o inferno era só uma chama...

No fundo um desejo:

Congelar no frio da solidão

Para anestesiar as feridas

Da incisão brutal do abandono


Sem asas para voar o destino é a queda

No vazio do encontro consigo

Um encontro tardio...

Arrependimento esquartejado

Dor latente, mente em convulsão


Olhos secos, rubro semblante


Serve-te da corda temperada para ti!

Espera teu o diâmetro pescoço

Ou isso...

Ou...


Fere...

Corta...

Dilacera a carne: Lembranças

Augusto F. Guerra

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

De como quase fui ladrão - Parte II


Como todo bom filme tem a parte dois, lá vamos nós de novo. Acredito que as forças do mal definitivamente me queriam do seu lado. Já não bastasse a corrupção me tentar com o caso do boneco vermelho do Pinóquio, meus amigos acabaram por me enredar numa estória de roubo, violência e assassinato! Brincadeira foi só roubo mesmo. Vamos aos fatos. Tínhamos saído da escola juntos, como era de habito. Éramos em numero de cinco: eu, meu irmão, o Alex, o Mourinho e o Nalberto. Esses três últimos eram irmãos e nossos vizinhos de longa data. Morávamos todos em um conjunto habitacional na saída da cidade. Até a escola era uma longa caminhada. Já era hora do almoço, estávamos esfaimados e a caminho de casa, o que não nos impediu de peraltearmos um pouco em nosso percurso. O Nalberto teve a idéia, “vamos passar no mercado”, ao que prontamente nos dispusemos sem o menor questionamento. Não sabíamos bem ao certo o que faríamos lá. Só não queríamos desperdiçar os instantes de liberdade que tínhamos. Na verdade, meus pais até davam bastante liberdade para mim e meu irmão, o que já não acontecia com o Nalberto e seus irmãos. Seus pais eram bastante rigorosos e severos, principalmente com os seus estudos. Quando chegavam da escola, almoçavam, descansavam um pouco e tinham que enfiar a cara nos livros. Era a tarde inteira estudando. Eu e meu irmão sempre dávamos um jeito de atrapalhar essa tarefa árdua dos nossos amigos. Como o pai deles trabalhava o dia inteiro, chegando sempre ao fim da tarde, a tarefa de coordenar os estudos era da mãe, que era severa, mas muito educada também. Quando eu e meu irmão chegávamos à casa do Nalberto, sua mãe sempre dizia “Nalberto, Alex e Mourinho peçam licença para o meninos e vão estudar”. Mas entre essa ordem e o seu cumprimento havia uma distância enorme. No final das contas conversávamos bastante. Mas quando se aproximavam às 16 horas, era tempo de irmos, pois o Sr. Venâncio, pai dos nossos amigos, estava para chegar. Ele era um senhor muito educado e gentil, mas muito veemente também quando mandava os meninos estudarem. Outro dia, porque os meninos tinham tirado nota baixa, e não estavam se dedicando muito aos estudos, o Sr. Venâncio colocou os três de joelhos sobre uns punhados de milho. Para eu e meu irmão, foi engraçada a cena, mas para os meninos, pelos semblantes de sofrimento que esboçavam , acho que não foi nem um pouco agradável aquela situação. Por essas e outras é que o Nalberto e seus irmãos aproveitavam qualquer brecha de tempo para brincar e aprontar um pouco. Então adentramos no supermercado. Demos algumas voltas, olhamos alguns produtos, que logicamente não iríamos comprar, rimos um pouco, e fomos embora. No meio do caminho é que veio a surpresa. O Nalberto enfiou a mão na mochila tirou uns pequenos carrinhos e começou a distribuí-los ente nós. “Esse é pra você... pra você, pra você, pra você e pra você. Pronto! Um de cada. São de vocês”. Achei aquele gesto tão bonito! Compartilhar seus brinquedos com os amigos. Grande sujeito era o Nalberto. Então resolvi perguntar “Legal Nalberto, você comprou esses carrinhos pra gente?”, “Comprei!? Não... eles estavam jogados no chão do supermercado. Como ninguém parecia dar conta deles, peguei-os”, disse inocentemente o Nalberto. Parei, olhei para o carrinho vermelho, refleti um pouco e cheguei a uma conclusão: “Acho que já vi essa história antes”.

Cruz, Fabio. Compilação de minhas verdades: por Augusto Guerra; pg. 24-25.



sábado, 6 de setembro de 2008

Ferida


Pútrida carne exposta aos vermes

O som de suas bocas ecoa

Bocas famintas, bocas selvagens

Bocas sedentas


E rastejam sobre o tecido enrijecido

E são muitos, e o som... e a imagem...


Sinto vertigem com a cena bizarra

A ânsia, o nojo. De mim, o vômito ácido

E se deleitam no fétido líquido azêdo:

Sobremesa


Visão fervilhante e nefasta

Cheiro áspero e árido

Sensação de gastura


Com a mão os afasto

E vejo-os voltar

E habitar

Novamente

A grande e minha chaga aberta

Augusto F. Guerra

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Canção do morro*


Minha terra tem ladeiras

Fuzis e traficantes

As armas que aqui disparam

Ensurdecem e atormentam


Nosso céu cruzado de balas

Nossos olhos mais temores

Nossas valas têm mais corpos

Nossa vida mais horrores


Com muitos crimes à noite

Mais medo encontro eu lá

Minha terra tem ladeiras

E fuzis e traficantes


Minha terra tem maconha

Ecstasy, cocaína, heroína


Com muitos crimes à noite

Mais medo encontro eu lá

Minha terra tem ladeiras

E fuzis e traficantes


Oh, Deus! Permita que eu saia de lá

Para morar em outro lugar

Para desfrutar os prazeres

Que não encontro eu cá


Espero eu poder avistar

Um dia um belo e doce sabiá

Augusto F. Guerra


*Paródia do poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias


sábado, 30 de agosto de 2008

De como não fui ladrão


Essa é interessante. Acho que o destino não me quis como um meliante. Sim, digo o destino porque foi pura sorte (ou azar!!!) eu ter sido pego em flagrante naquela tediosa e nublada manhã de segunda-feira. Vamos direto aos fatos. Eu era uma jovem criança de 4 anos. Morava com meus pais e meus dois irmãos. Nunca fui uma criança problema, pelo contrário, sempre fui muito quieto e comportado, afinal minha mãe sempre jogou duro e meu pai... Com esse não tinha nem brincadeira. Um pequeno deslize e ele lançava um daqueles olhares que era pior que uma surra. Meu irmão já era o oposto de mim, muito brincalhão e peralta. O fato é que nesse dia encontrava-me solitário, sem ninguém para brincar. Meu irmão como já se encontrava na idade estava na escola. Foi então que minha mãe me chamou para irmos à casa de uma ex-vizinha e amiga de nossa família: Dona Amália. Essa Dona Amália tinha dois filhos, o Cléber e a Sara. Convivíamos muito bem juntos. Brincávamos, brincávamos e brincávamos, e quando nos sobrava tempo, nas horas vagas, brincávamos um pouco mais para não perder o costume. Depois de algumas quadras lá chegamos. Para aumentar o meu tédio, ao chegarmos á casa da Dona Amália, percebi que seus filhos não se encontravam. Também haviam ido para aquela tal escola que meu irmão estudava. Puxa! Aquilo era realmente muito chato, duas senhoras conversando sobre seus interessantíssimos cotidianos de donas de casa, e eu lá, que nem uma besta sem ter o que fazer, sem ninguém para brincar. Percebendo a falta de atenção das duas mulheres para comigo, comecei a bisbilhotar pela casa. E eis que fulgurante e reluzente um tesouro vislumbrava-se diante dos meus pequeninos e cobiçosos olhos: um brinquedo. Na verdade eu era uma criança pobre, nunca tive muitos brinquedos, pra ser sincero eram bem poucos os que tinha. Finalmente minha cinzenta manhã colorira-se com um pouco de alegria. Então comecei a brincar com aquele pequenino brinquedo: um boneco do Pinóquio vermelho. Passados alguns minutos de diversão e distração, ouvi a voz de minha mãe a me chamar. “Guto, meu filho, vamos embora que é tarde”. Que droga, logo agora que começava a me divertir. Então diante daquela situação, no mínimo injusta- deveria existir uma lei que proibisse um adulto de interromper a diversão de uma criança- não exitei... Pelo que lembre na verdade nem pensei no que estava fazendo. Enfiei o boneco no bolso para que em casa pudesse dar seguimento à minha empreitada de diversão. Roubo! Na verdade nem sabia ao certo o que era isso. Tudo ia muito bem. Deixamos a casa de Dona Amália sem que de nada desconfiassem as duas mulheres. Porém, como todo réu primário, acabei por entregar-me por não conter-me em mim com o sucesso de minha empresa. No meio do caminho retirei o boneco do bolso e comecei a brincar. Ao perceber aquele objeto em minhas mãos minha mãe me indagou: “O que é isso, Guto?”. Em silêncio fiquei, em silêncio permaneci. “Guto, o que é isso?”. Agora ela colocou o vocativo no início da frase! “De quem é isso? Diga!”. É... Quando não tem mais vocativo na sentença da mamãe é porque lascou-se tudo. Além de me fazer devolver o brinquedo e pedir desculpas à Dona Amália levei uma tremenda surra ao chegar em casa. A partir desse dia aprendi que roubar é feio, mas pior é roubar e não conseguir levar. Desse dia em diante me aposentei da vida do crime e resolvi seguir uma vida normal como a de qualquer criança da minha idade.

Cruz, Fabio. Compilação de minhas verdades: por Augusto Guerra; pg. 9-10.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Do mundo para Cabrobó


O cumpade Lau era proprietário de umas terras lá pras bandas de Cabrobó. Eram umas terras pequenas. A bem da verdade era um roçado. Lá ele plantava milho, macaxeira, feijão, tomate, batata, laranja, alface, cenoura, maracujá e outras culturas mais. Apesar das terras não serem de grandes expansões, o cumpade Lau era esperto o suficiente para aproveitar o espaço que lhe convinha.Um pé de cada cultura já dava pra alimentar a família. Desse montante de alimentos cultivados a maior parte ficava no seu roçado para sustento dele e da família. A outra parte era usada em trocas na feira livre, ou era vendida para se conseguir algum dinheiro. Era o cumpade Lau casado com Dona Zefa, e juntos tinham nove filhos: Pedro, Daniel, Augusta, Lindomar, Demétrio, Esdras, Joaquina, Rita e Antônio. Todos ajudavam seu Lau e sua mulher na colheita e nas tarefas domésticas. Fora isso não se tinha muito que fazer por lá. Os adultos faziam filhos, e as crianças... Estas aguardavam o momento de fazer o mesmo. Até lá ajudavam os pais no roçado. Não fazia muito tempo, tinha chegado energia elétrica pelas bandas de suas terras. Cumpade Lau não deu muita atenção. Isso até passar pela casa do cumpade Diodério, que havia comprado um aparelho de TV. Os eletrodomésticos viraram a sensação nas roças vizinhas. Liquidificador, aparelho de som, TV, geladeira. Era tudo uma novidade só. Era a energia elétrica uma benção pra aquela gente tão simples e humilde. Água gelada... Nossa! Aquilo era coisa de Deus. TV então... Era que uma diversão só. Desenho pras crianças, novelas para os adultos, telejornal para quem tinha estudado mais um pouquinho. Cumpade Lau ficou fascinado por aquela caixinha feita de um material plástico resistente e uma tela de vidro. “Acumaé que botaru essa gente toda aí drento?”. Mesmo sem saber como, cumpade Lau não poupou esforços. Juntou todo o dinheiro que pode – dinheiro proveniente das vendas dos excedentes do roçado - e foi numa loja para comprar a TV. Chegando lá descobriu que o dinheiro não era o suficiente. Era caro o aparelho. Se vendesse mais um pouquinho do que tinha plantado até que daria. Foi o que fez. Donha Zefa reclamou. Mas não adiantou, o homem era teimoso. Em casa fora uma festa só. As crianças pareciam pintinhos na bosta. Era que uma alegria só. Até Dona Zefa desfez a cara feia. Agora sim, seu Lau estava contente. “Eta bicho bão esse negócio de telévesão!”. Mas seu Lau não se conteve. No mês seguinte começou a namorar um aparelho de som. Musica... era “bão”. O mês anterior já tinha sido um aperto só por causa da TV. Para comprá-la, seu Lau teve que vender boa parte da colheita. E agora o som! Mas não podiam ficar sem. Aquilo também era coisa de Deus. Então comprou. Fora-se a outra parte da colheita. A comida começou a faltar na casa de seu Lau. Mas não era nada grave. Nada que uma farinha com açúcar não resolvesse. As crianças, entretidas com a TV, e agora o aparelho de som, nem lembravam o “de cumê”. Mas as compras não pararam por aí. No mês seguinte veio o liquidificador, no outro a geladeira. Dona Zefa até pediu uma batedeira pra seu Lau. E ele comprou. Depois de tanta gastadeira a comida faltou na mesa. As crianças começaram, a reclamar, Dona Zefa tava que era um agonia só. Seu Lau não tinha dinheiro pra comprar comida. Da roça tinha vendido tudo. Só havia umas palmas que nasceram por acaso no roçado. Sem colheita pra trocar ou pra vender, não teve como pagar a tal da conta de luz. “E tem isso é?”. Famintos os meninos começaram a chorar. A farinha e o açúcar também haviam acabado. Foi então que o menino mais novo, o Lindomar perguntou: “Painho, nóis pode cumê a TV?”.

Augusto F. Guerra

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Uma visão diferente


Você já tentou analisar a história da Chapeuzinho Vermelho por uma ótica mais realista e racional? Fora do contexto da fábula? Não? É... eu imaginei. Normalmente engolimos essas historinhas e seus fundos morais pela goela abaixo sem nos questionarmos sobre qualquer coisa. Será que a Chapeuzinho era realmente ingênua? E a vovó? Como ela permitiu a entrada do lobo na sua casa? O caçador estava certo em matar o lobo? E o lobo era esse realmente mau?

Para início de conversa, a Chapeuzinho Vermelho sabia muito bem dos perigos que a floresta escondia, e, se adentrou por ela ,foi por responsabilidade exclusivamente sua (primeiro vacilo). Inclusive ela foi o início de um efeito avalanche que acabou por findar com a vida do Sr. Lobo.

O fato é que a garota não deveria estar na floresta; se estava foi por desobediência. E aí começamos a nos questionar sobre a educação que sua mãe lhe proveu; se a mãe fosse realmente um exemplo suas palavras fariam sentido para a garota que tomaria o conselho da progenitora como uma verdade a ser seguida para seu próprio bem. Mas ao contrario, a jovem e corrompida garota, entrou na floresta e modificou a ordem natural das coisas. Encontrou o lobo!

Este, como animal selvagem que era, nada mais faria que cercar a garota, e buscar uma estratégia para atacá-la. Ele estava seguindo seus instintos. A jovem, naquele momento, fazia parte da sua cadeia alimentar. Logo teceu seu plano(instintivo) para se alimentar.

Como ele, o lobo, entrou na casa da vovó? Pois bem, a velha permitiu a entrada de um estranho em casa (Segundo vacilo da história). Um lobo! O que este fez? Devorou a velhinha. É claro! Se ele estava com fome, o que mais faria?

Depois chega a garota, com a cara mais lavada, na casa da vovó, como se fosse a maior santinha. Pior, não faz uma leitura racional das gritantes diferenças físicas entre sua avó e o lobo. Leitura e interpretação não eram o forte da garota. Provavelmente deveria ser uma aluna displicente.

Essa demora em reconhecer sua vovó demonstra a pouca estabilidade familiar e pouco convívio entre ambas. A família provavelmente não tinha uma relação sadia e cotidiana! Detalhe, a avó morava sozinha e estava doente. Tremenda consideração Chapeuzinho e sua mãe tinham pela avó. “A velhinha problema tem que ficar longe”. Esse parecia ser o lema da família. De outra forma não se explicaria o quase abandono da velha.

Então o lobo, que mais uma vez seguiria sua cadeia alimentar natural, é surpreendido por um caçador, que sem saber exatamente o que acontecia e com rifle em punho dispara contra o canino(terceiro vacilo). Até o policias sabem que não se pode atirar sem antes saber o que acontece. Em tese o inocente é que morreu. E esse caçador? Ele tinha porte legal de arma? Ninguém mencionou isso na história. Parece que abafaram o caso. Depois, ainda inventaram uma história de que a avó da garota foi retirada do estomago do lobo viva. Ou ela não foi morta pelo lobo, ou inventaram uma grande mentira sobre o fato de ainda estar viva. Mas o fato é que a velha estava viva mesmo.

Então a única coisa que parece fazer sentido, é que armaram pra cima do lobo. Sim! Vocês não assistem a novela das oito, A Favorita? Foi tudo tramado e premeditado. O lobo era inocente. Depois disso, todo mundo viveu feliz para sempre!? E a família do lobo? Alguma notícia? A mídia abordou o caso? Não! Tudo estava errado desde o início: a mãe, a garota, a avó e o caçador. Mas ninguém parece perceber as evidências.

Em suma o lobo tomou no toba! E eu, que não sou besta, continuo assistindo a novela.

Augusto F. Guerra

Januário e o causo da bicicleta


A vida de Januário, como a maioria dos nordestinos, era bastante difícil e sofrida. Acordava todos os dias às 3:30 da manhã. O café era simples. Um pãozinho francês dormido e um menorzinho*. A mulher despertava bem mais cedo, já que tinha que preparar o desjejum do marido. Àquela hora as crianças ainda estavam na cama. Por sorte tinham um pai, apesar de pouco instruído, muito consciente. Escola era prioridade para os filhos. Criança não trabalha! Mas a vida de Januario não era fácil. Além das poucas horas de sono, ganhava muito mal. O salário de bóia-fria era o suficiente para não morrerem de fome. O trabalho, no corte de cana, ficava a 10 quilômetros de casa. Todo dia ia e voltava a pé. Não era fácil. Mas um dia Tudo mudou!!! Juvenal comprou uma bicicleta!!! É... Não mudou tanto. Mas já lhe poupava de ter que andar tanto. Era uma bicicleta usada. Pintura vermelha, já um tanto descascada. Alguns pontos de ferrugem. O selim um tanto esfolado. Mas fora uma grande conquista. Depois de alguns anos de economia, a duras penas, adquiria seu mais precioso bem material depois de seu pequeno e velho casebre. Juvenal era daqueles sujeitos boa praça. Apesar de não ter nada, dividia tudo que tinha com todos(???). Outro dia dera metade do pão que comia para um pobre cachorro que lhe aparecera pela casa logo de manhã cedo. Era um homem de muito bom coração. Dizem até que vendo uma família na estrada certa feita deu todo o dinheiro que tinha no bolso para eles. Dois ou três reais, não sei ao certo. Mas voltemos a falar da bicicleta de Januário. O caso é que, dia desses, lhe pediram o veículo emprestado no trabalho, “Ô cumpade, me impresta a bicicreta pa mó dí comprá um fumo ali?”, ao que respondeu solidariamente Januário, “Má é craro, cumpade”. Era em torno de 10 da manhã. Passaram-se vinte minutos, trinta, uma hora, duas e nada do cumpade voltar. Duas horas da tarde. Nada do cumpade, Quatro horas, nada. Cinco e meia, nada ainda. Seis... Janúario resolveu ir caminhando para casa. Estava esgotado. Muito cansado mesmo. Era sábado. No domingo ia folgar. Já havia planejado um programão: ir à casa do cumpade Lau, com a mulher e os filhos. Que falta a bicicleta lhe fazia. Estava muito chateado. Depois de saborear o prazer de não mais ir andando para casa após o trabalho, vivera aquela penúria de novo. E por que? Por causa de um cumpade irresponsável? Mas o que poderia ter acontecido? Ao passar por um bar já perto de casa, avistara o cumpade que lhe pedira a bicicleta tomando uma pinga. Aproximou-se e perguntou, “Cumpade, ocê ta aqui? Cadê minha bicicreta”. O cumpade estava mamado*. Bebera desde que saíra de manhã cedo. “Cumpade Januário! Deve de tá La fora”. Januario deu uma espiadinha pela porta do bar. Não havia bicicleta nenhuma. “Num tá não, cumpade”, disse Januário. “Ah, cumpade, intão num sei não”. É... a bicicleta de Januário, conseguida com tanto suor e esforço esvanecera, se fora, escafera-se. E tudo por causa do cumpade pinguço. Outra não recebera como substituição. Comprar uma segunda bicicleta era praticamente impossível. O dinheiro não dava. Depois disso, voltaram os dias de penúria para se locomover para o trabalho. Pior era a volta, 10 quilômetros e cansado. Nunca mais emprestou, ou dividiu nada com ninguém. Pela roça corria o boato que Januario era sovina, canguinha, um miserável. Disseram até que, um dia desses, um pedinte lhe apareceu logo cedo pela casa para pedir-lhe um pedaço de pão, e Januário escorraçou o pobre coitado a pontapés.

Augusto F. Guerra

Psicose urbana


"Toc, toc". Algúem batia à porta. A velha senhora levantou-se para atender. "Toc, toc, toc, toc". "Calma, já estou indo" disse com voz lânguida, a anciã. Chegando à porta, destrancou a fechadura e girou debilmente a maçaneta. A luz ofuscante daquela bela manhã de sábado cegou por um instante sua visão. Antes que pudesse identificar o visitante, um disparo de arma de fogo cortou o harmonioso silencio matinal... Recebeu um tiro no meio da testa e caiu estendida no chão. Um homem: seu agressor. Usava maquiagem de palhaço, roupas de um bobo da corte e tinha um sorriso insano no rosto. As únicas palavras proferidas pelo agressor foram: "Dessa vez você esta morto, Batman".

Augusto F. Guerra

Desinfeliz


Andei. Acho que uns dez quilômetros. Olhei para trás, não vi ninguém. Continuei andando. Depois de mais algumas passadas avistei um velho homem sentado numa pedra na beira da estrada. Caminhei até ele. Cabeça baixa e mãos no rosto, ele não percebeu minha aproximação, por isso com voz suave, para que não se assustasse, perguntei, “Posso ajudar, amigo?”. Ele levantou a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos e úmidos. Seu semblante triste. Algo de grave parecia ter lhe acontecido. Não sei se morte, abandono ou tragédia. Ele me olhou fixamente nos olhos. E, antes de falar, deu um suspiro e disse de forma pesarosa e lânguida, “É que a vida é um eterno desassossego, moço”. Sentei-me ao seu lado e, como não o fazia há muito tempo, me pus a chorar.

Augusto F. Guerra

Graduado em moral


Olá! Meu nome é Joaquim Vasconcelos. Estou aqui escrevendo um pequeno resumo sobre o ultimo evento que realizei (oficinas e mini-cursos). Quem tiver interesse, após a leitura, pode consultar o link www.minhaconsciencia.eu.mesmo e obter mais informações sobre os mini-cursos e oficinas.

Resolvi trabalhar com uma área do conhecimento um tato abandonada nos dias de hoje: Ética e Moral. Sou graduado pela Universidade da Vida em Ciúmes e Cobranças. Tenho especialização em Insanidade. Fiz uma bela monografia: “Como enlouquecer a mulher que amo”. Três anos de produção. Para desenvolver essa pesquisa me foram fundamentais os 3 anos de graduação. Já comecei o curso fazendo estagio no primeiro semestre. Alguns pré-requisitos me foram necessários: Ter histórico de ciúmes na família, ser inseguro, ser inexperiente em relacionamentos, saber fazer cenas ridículas, saber cobrar e sufocar a companheira. Havia mais alguns outros, mas não os lembro agora. Acho que esses foram os principais. Tive até que fazer o teste de aptidão. Era simples: fazer cobranças idiotas de uma ficante em menos de uma semana. Passei tranqüilo.

Peguei matérias importantes para minha formação: Privação da liberdade alheia I, II e III; Inferninho I e II; Brigas e Discussões I, II e II(essa eu era craque); Acabando com a paz e a privacidade alheia I e II; Sufocando o outro I, II e III; Dramatização I, II e III; além de umas optativas tais como Armando o barraco I e Estragando a felicidade do outro. Mas durante o tempo de graduação, o que mais me marcou foi o estagio. Devido à minha grande aptidão para o curso, logo no primeiro mês de graduação já fui encaminhado. O estagio não era difícil: arrumar uma namorada e infernizar a vida dela. Fui aluno de destaque e condecorado. Sempre tirei notas máximas.

Apesar do meu sucesso nessa área ser eminente e certo, era essa uma área que me cansava um pouco; exigia muita energia física. Até que um dia um amigo me sugeriu fazer uma especialização em Consciência e Reflexão. Relutei um pouco, pois fugia da minha área e formação. Mas fiquei sabendo que além de ser de graça os lucros provenientes dessa pós-graduação eram muito altos. Então me joguei. Três anos de pós!!!.No inicio achei tudo muito estranho. Mas depois de um tempo tomei gosto pelos estudos. Algumas matérias eram bem interessantes: Respeitando o outro; A privacidade do outro é fundamental; Cada um tem seu espaço e seu tempo; Segurança e autoconfiança são importantes e Tome vergonha na cara e não se faça de vítima.

Apaixonei-me pelo curso. Hoje sou outra pessoa. Depois disso fiz mestrado em Altruísmo e doutorado em Ética e Moral. Dedico-me hoje a palestras, cursos e mini-cursos particulares e individualizados. Também presto acessória na área de Conselho é bom e Faça o que eu digo não faça o que eu fiz.

Descobri posteriormente, que não mentiram para mim quando me falaram dos lucros. Tenho que admitir que fiz fortuna nessa área.

Só mais uma coisa. É sobre o site que indiquei mais acima. Não precisa estar conectado à internet para acessá-lo. Na verdade nem precisa de computador.


Joaquim Alturakim